Up all Night -Parte 1
A noite para mim, era a melhor parte do dia. Era a única vez
em que podia sonhar sem ser julgada e viver outra vida completamente diferente.
Sonhar fazia – me voltar atrás no tempo quando ainda era feliz, quando tinha
razões para sorrir todos os dias, quando não vivia com medo de tudo e de
todos. Acordava a pensar: ‘’ Porque é
que já acabou…’’.
Desde que mudara para londres que a minha vida era um
inferno, era uma rotina completa, sempre a mesma coisa. Nada parecia alterar – se, exceto quando
dormia.
***
Senti uma luz a espreitar pelas cortinas do meu pequeno
quarto, enquanto o meu despertador tocava estridentemente. Estiquei – me um pouco
para a mesa de cabeceira para parar o despertador, e de seguida sentei – me na cama agarrada a
um pequeno boneco que a minha melhor amiga me tinha oferecido antes de me mudar
para Londres.
Começava então mais um Sábado, o dia das compras e o dia das
limpezas. De repente ouvi alguém a bater à porta com muita suavidade, senti um sorriso leve a aparecer na minha cara e
disse:
- Quem é a princesa que está a bater à minha porta??
- Chou eu – respondeu uma voz mimosa do outro lado.
Levantei – me rapidamente para abrir a porta à Joana. Mal a
porta se abriu, aquele
pequeno anjo riu – se para mim e saltou – me para cima:
- Dumiste bem Alex ?
- Eu dormi muito bem, e tu princesa? – respondi eu enquanto
acariciava os seus caracóis, e a levava para a minha cama.
- Dumi chim – disse ela.
Não resisti em soltar uma ligeira gargalhada, e dar – lhe um
grande abraço. Levantei – me da cama deixando a minha irmã a brincar com a
minha almofada. Abri os estores e a janela para entrar um pouco de ar:
- Mana, vais – te vestir ?
- Vou, e tu devias fazer o mesmo antes que o pai acorde… -
disse eu, sentindo um certo medo por ela.
O meu padrasto, era uma pessoa tudo menos normal. Chegava a
casa quase sempre bêbado, quase sempre mal – disposto e a minha mãe, eu e a
minha irmã, por qualquer coisa, como não estarmos vestidas às 9 da manhã, era
motivo para levar um sermão ou para o ouvir insultar – nos.
A minha irmã rapidamente saiu da cama, e foi a correr para a
mãe pedir que a vestisse. Peguei, numas simples calças de ganga, uma camisola
branca e no meu casaco azul petróleo e vesti – me rapidamente. Sentei – me em frente ao espelho e penteei o
meu cabelo, nunca tirando os olhos das diversas fotografias que tinha lá
coladas. Fotografias que me recordavam dos tempos em que havia sido feliz, e
dos tempos em que me sentia verdadeiramente amada:
- Isso demora muito? – Ouvi o meu padrasto, a gritar.
Levantei – me rapidamente do banco, espreitei para a cozinha
e perguntei:
- Isso é para mim?
- Sim, não vês que já estamos todos aqui ? Ás vezes parece
que não pensas pá!!
Fechei a porta rapidamente para acabar de me arranjar,
tirei minha mala preta e pus lá o
essencial para o dia. Dirigi – me à cozinha:
- Bom dia princesa –
cumprimentou – me a minha mãe, claramente cançada.
- Bom dia mami – disse – lhe eu esboçando um sorriso.
Sentei – me à mesa para tomar o pequeno almoço. Conforme ia
tirar pão, senti o meu padrasto a deter – me:
- Estes dois pedaços são para mim, por isso é que estão
deste lado da mesa!
- Mas não há mais pão
em casa Luís… - respondi eu, esperando a
típica resposta.
- AZAR – berrou ele, agarrando nas duas fatias barrando – as
com doce.
- Luís, querido, não
podes dar uma fatia à Alex ? – disse a minha mãe, com uma voz tremida.
- Já deviam saber que Não , é NÃO! – disse batendo com o
punho na mesa, entornando todo o seu café na mesa – Alex limpa isto Já!
Olhei para ele bastante perplexa e disse:
- Porque é que não pegas tu num guardanapo e limpas isto?
Afinal foste tu que sujaste…
Olhou – me enfurecido. Vi – o a ficar bastante vermelho, e
mesmo assim continuei:
- És mais que alguém nesta casa, que não pode simplesmente
pegar num pano e limpar uma nodoa de café?
Via a minha mãe a fazer sinais para me calar, mas não cedi,
não ia ficar calada, não ia engolir mais.
- LIMPA JÁ ISTO OU…
- Ou o quê? – disse eu interrompendo – Vais bater – me?
Dito isto, senti uma mão a cortar o ar e a acertar na minha
cara. Passei a mão pelo sitio onde me doía e soltei apenas uma lágima.
- Papáá !! – gritou a minha irmã.
- Cala – te agora tu Joana – disse ele empurrando a minha
irmã para o meu do chão. – Alex, vais limpar agora ou queres outra?
- Luís estás a ir longe de mais … - ripostou a minha mãe
- E quem és tu para me dizer isso ? - disse o meu padrasto.
A minha mãe voltou costas e simplesmente voltou a limpar a
loiça. Não suportava ver aquilo, não suportava mais aquele homem, aquela casa
que me prendia à escravidão. Peguei na minha mala preta, na mão da minha irmã e
saí disparada de casa. Tinha de ir desanuviar, limpar as ideias, tinha de tirar
este episódio da cabeça:
- Ainda te dói muito o dói – dói ?
- Não querida, já passou – disse eu sorrindo para ela.
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