sexta-feira, 13 de abril de 2012


Up all Night -Parte 1

A noite para mim, era a melhor parte do dia. Era a única vez em que podia sonhar sem ser julgada e viver outra vida completamente diferente. Sonhar fazia – me voltar atrás no tempo quando ainda era feliz, quando tinha razões para sorrir todos os dias, quando não vivia com medo de tudo e de todos.  Acordava a pensar: ‘’ Porque é que já acabou…’’. 
Desde que mudara para londres que a minha vida era um inferno, era uma rotina completa, sempre a mesma coisa.  Nada parecia alterar – se, exceto quando dormia.
***
Senti uma luz a espreitar pelas cortinas do meu pequeno quarto, enquanto o meu despertador tocava estridentemente. Estiquei – me um pouco para a mesa de cabeceira para parar o despertador,  e de seguida sentei – me na cama agarrada a um pequeno boneco que a minha melhor amiga me tinha oferecido antes de me mudar para Londres.
Começava então mais um Sábado, o dia das compras e o dia das limpezas. De repente ouvi alguém a bater à porta com muita suavidade, senti  um sorriso leve a aparecer na minha cara e disse:
- Quem é a princesa que está a bater à minha porta??

- Chou eu – respondeu uma voz mimosa do outro lado.

Levantei – me rapidamente para abrir a porta à Joana. Mal a porta se abriu, aquele 
pequeno anjo riu – se para mim e saltou – me para cima:

- Dumiste bem Alex ?

- Eu dormi muito bem, e tu princesa? – respondi eu enquanto acariciava os seus caracóis, e a levava para a minha cama.

- Dumi chim – disse ela.

Não resisti em soltar uma ligeira gargalhada, e dar – lhe um grande abraço. Levantei – me da cama deixando a minha irmã a brincar com a minha almofada. Abri os estores e a janela para entrar um pouco de ar:

- Mana, vais – te vestir ?

- Vou, e tu devias fazer o mesmo antes que o pai acorde… - disse eu, sentindo um certo medo por ela.

O meu padrasto, era uma pessoa tudo menos normal. Chegava a casa quase sempre bêbado, quase sempre mal – disposto e a minha mãe, eu e a minha irmã, por qualquer coisa, como não estarmos vestidas às 9 da manhã, era motivo para levar um sermão ou para o ouvir insultar – nos.

A minha irmã rapidamente saiu da cama, e foi a correr para a mãe pedir que a vestisse. Peguei, numas simples calças de ganga, uma camisola branca e no meu casaco azul petróleo e vesti – me rapidamente.  Sentei – me em frente ao espelho e penteei o meu cabelo, nunca tirando os olhos das diversas fotografias que tinha lá coladas. Fotografias que me recordavam dos tempos em que havia sido feliz, e dos tempos em que me sentia verdadeiramente amada:

- Isso demora muito? – Ouvi o meu padrasto,  a gritar.

Levantei – me rapidamente do banco, espreitei para a cozinha e perguntei:

- Isso é para mim?

- Sim, não vês que já estamos todos aqui ? Ás vezes parece que não pensas pá!!
Fechei a porta rapidamente para acabar de me arranjar, tirei  minha mala preta e pus lá o essencial para o dia. Dirigi – me à cozinha:

 - Bom dia princesa – cumprimentou – me a minha mãe, claramente cançada.

- Bom dia mami – disse – lhe eu esboçando um sorriso.

Sentei – me à mesa para tomar o pequeno almoço. Conforme ia tirar pão, senti o meu padrasto a deter – me:
- Estes dois pedaços são para mim, por isso é que estão deste lado da mesa!

-  Mas não há mais pão em casa Luís…  - respondi eu, esperando a típica resposta.

- AZAR – berrou ele, agarrando nas duas fatias barrando – as com doce.

- Luís, querido,  não podes dar uma fatia à Alex ? – disse a minha mãe, com uma voz tremida.

- Já deviam saber que Não , é NÃO! – disse batendo com o punho na mesa, entornando todo o seu café na mesa – Alex limpa isto Já!

Olhei para ele bastante perplexa e disse:
- Porque é que não pegas tu num guardanapo e limpas isto? Afinal foste tu que sujaste…

Olhou – me enfurecido. Vi – o a ficar bastante vermelho, e mesmo assim continuei:

- És mais que alguém nesta casa, que não pode simplesmente pegar num pano e limpar uma nodoa de café?

Via a minha mãe a fazer sinais para me calar, mas não cedi, não ia ficar calada, não ia engolir mais.

- LIMPA JÁ ISTO OU…

- Ou o quê? – disse eu interrompendo – Vais bater – me?

Dito isto, senti uma mão a cortar o ar e a acertar na minha cara. Passei a mão pelo sitio onde me doía e soltei apenas uma lágima.

- Papáá !! – gritou a minha irmã.

- Cala – te agora tu Joana – disse ele empurrando a minha irmã para o meu do chão. – Alex, vais limpar agora ou queres outra?

- Luís estás a ir longe de mais … - ripostou a minha mãe
- E quem és tu para me dizer isso ?  - disse o meu padrasto.

A minha mãe voltou costas e simplesmente voltou a limpar a loiça. Não suportava ver aquilo, não suportava mais aquele homem, aquela casa que me prendia à escravidão. Peguei na minha mala preta, na mão da minha irmã e saí disparada de casa. Tinha de ir desanuviar, limpar as ideias, tinha de tirar este episódio da cabeça:

- Ainda te dói muito o dói – dói ?

- Não querida, já passou – disse eu sorrindo para ela.


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