domingo, 15 de abril de 2012


Up all Night -Parte 2

Saímos porta fora, sem rumo, caladas eu e a minha irmã andávamos sempre de mãos dadas sem nunca nos largarmos.

- Mana e se fossemos ao parque ? – disse ela na expetativa de um redondo sim.

- Hmmm… vou pensar

- Vá lá, Vá lá, Vá lá, Vá lá, Vá lá, Vá lá … - disse ela aos saltinhos puxando pelo meu casaco.

- Claro que sim – disse eu rasgando – lhe um enorme sorriso.

A Joana desatou a correr em direção ao parque. Quando lá chegamos, sentei – me na relva, tirei o meu livro da mala e comecei a ler:

- Mana… - disse a minha irmã, abraçando – se a mim – Não vens brincar comigo?

- Oh querida, a mana hoje queria descansar um bocadinho …

Notei – lhe uma ligeira tristeza, baixou a cabecinha dela disse:

- Está bem …

- A mana já vai , posso só ler um bocadinho? – disse eu esperando que ela se alegrasse

- Sim – disse ela – vou afugentar os pombos tá bem ? – disse ela soltando uma ligeira gargalhada.

- Não te afastes princesa – disse eu relembrando – lhe da única regra que lhe impunha quando estávamos juntas.

Acenou – me que sim e desatou a correr. A única coisa que desejava nestas alturas, era que por alguns momentos ela pudesse esquecer aquelas cenas com o Luís, que o pudesse esquecer por uns momentos, que pudesse esquecer das suas restrições e das suas implicâncias. Senti o telemóvel no meu bolso a vibrar:

‘’ Oiii Alex,  olha amanhã volto para casa , tenho fotos espetaculares de Paris, espero que depois gostes! Como vão as coisas por aí ?  Vera xx’’

Rasguei um sorriso e respondi:

‘’ Estou tão feliz por voltares amor, tenho tantas saudades tuas... As coisas por aqui estão iguais, nada mudou acho que nunca vai mudar ): Quero ver essas fotos miúda!! Volta depressa! Alex ‘’ 

Guardei o telemóvel e olhei em volta para ver onde estava a Joana. Não a via em lado nenhum, não via pombos, não via Joana… O meu coração começou a bater cada vez mais depressa e fiquei cada vez mais ofegante. Respirar estava a ficar difícil, levantei – me rapidamente:

- ‘’ JOANAAAA, JOANAA !! ONDE ESTÁS ?? JOANAAAAAAA ‘’  - gritava eu.
Olhava para a esquerda, nada de Joana, olhava para a direita e nada de Joana, olhei  em todas as direções e nada de Joana. As lágrimas escorriam pela minha cara abaixo, só de pensar que talvez nunca a voltaria a ver:

- Está alii !!

Ouvi uma voz que me era muito familiar, uma voz mimosa, doce… Olhei para o sitio de onde vinha  o som, e oiço alguém a chamar por mim. Olhei para todos os lados e não via ninguém. A maluquice era uma coisa que me ocorria naquele momento à cabeça. Apoiei a minha cabeça nos meus joelhos e desatei a chorar.

Senti um ligeiro toque nas minhas costas, limpei rapidamente as minha lágrimas e virei – me. Conforme me virei vi a minha princesa de novo , a rir para mim:

- Joanaaaaaa!!! – disse eu ainda no meu de soluços – oh meu amor, onde é que tu estiveste?

- Eu andava a brincar, e quando dei por mim vi que me tinha perdido e comecei a chamar por ti, até que apareceu este senhor.

- Mas que se…

Acabei por ser interrompida, por ele, os seus caracóis ofuscavam o meu olhar, o seu cheiro era agradável:

- Posso sentar – me?

- Claro!!

Sentou – se ao meu lado e rasgou – me um largo sorriso, corei obviamente e ele soltou uma ligeira gargalhada:

- Harry Styles, prazer …

- O prazer é todo meu – disse eu sorrindo – Alexandra, mas toda a gente me trata por Alex
Ficámos calados durantes uns minutos, eu não conseguia desviar o meu olhar do dele e a minha irmã não se parava de se meter com ele. Era um rapaz carinhoso, com um jeito para crianças evidente. Começaram a brincar os dois deitados na relva, eu ria – me que nem uma perdida daquelas maluqueiras mas ganhei coragem e disse:

- Obrigada…

Fez um jeito ao cabelo e sentou – se mesmo à minha frente:

-  Obrigada por …


- Por ter trazido a minha princesa, estou – lhe eternamente grata…

- Primeiro, trata – me por tu e segundo, não tens de agradecer , já me diverti muito à conta desta menina – disse ele acariciando os caracóis da minha irmã.

- Não sei o que me passou pela cabeça para tirar os olhos de cima dela… - disse eu martirizando – me.

- Acidentes acontecem… - disse ele sorrindo – me.

- Destes não deviam – disse eu
- Esquece isso agora, ela está aqui em segurança e é isso que importa Alex …

O nosso dialogo foi rapidamente interrompido, pela minha irmã que se atirou para cima de mim e disse:

- Mana, o Harry é bonito – soltou uma gargalhada e escondeu – se atrás de mim.

Ele corou bastante, mas sorriu:

- Se fosses tu a dizer era pior – disse ele escondendo as bochechas.

Desatei a rir – me e disse

- O Harry é bonito!!! Desculpa não resisti...

- Achas mesmo? - disse ele.

Fiquei meia envergonhada, mas mesmo assim respondi: 

- Sim... 

Entre gargalhadas e sorrisos, passámos a manhã naquele parque.  Deitados os 3 na relva com a minha irmã no meio, eu cheguei até a adormecer e só consegui acordar quando a minha irmã me agitou para dizer que já tinha uma certa fome.
Quando abri os olhos, deparei – me com o olhar dele pousado em mim, o que me fez estremecer.  Estava a ficar deslumbrada e queria que aquele momento durasse para sempre:

- Bom dia Bela adormecida - disse ele, sorrindo para mim.

‘’ Bom dia príncipe encantado ‘’ – pensei eu

- Boa tarde, Harry – disse eu.

Aquele momento estava a ficar demasiado intenso, sabia que se ficássemos assim muito mais tempo, alguma coisa ia acontecer, por isso, levantei – me rapidamente. Sacudi alguma folhas do meu casaco e depois de terminar, pude constatar que ele ainda estava sentado na relva a olhar para mim:

- Onde vais ? – perguntou ele.

- Nós as duas vamos almoçar a sitio super secreto chamado Mc Donald’s  - hesitei, um pouco e continuei – queres vir também ?

Olhou – me surpreso e levantou – se rapidamente:

- Já lá devíamos estar

- A Alex tem um namorado, A Alex tem um namorado – cantarolava a minha irmã.

- SSSHHHHH!!! Joana!!

Enquanto a vergonha me assolava naquele momento, a felicidade ia emergindo a pouco e pouco à medida que o tempo ia passando.



sexta-feira, 13 de abril de 2012


Up all Night -Parte 1

A noite para mim, era a melhor parte do dia. Era a única vez em que podia sonhar sem ser julgada e viver outra vida completamente diferente. Sonhar fazia – me voltar atrás no tempo quando ainda era feliz, quando tinha razões para sorrir todos os dias, quando não vivia com medo de tudo e de todos.  Acordava a pensar: ‘’ Porque é que já acabou…’’. 
Desde que mudara para londres que a minha vida era um inferno, era uma rotina completa, sempre a mesma coisa.  Nada parecia alterar – se, exceto quando dormia.
***
Senti uma luz a espreitar pelas cortinas do meu pequeno quarto, enquanto o meu despertador tocava estridentemente. Estiquei – me um pouco para a mesa de cabeceira para parar o despertador,  e de seguida sentei – me na cama agarrada a um pequeno boneco que a minha melhor amiga me tinha oferecido antes de me mudar para Londres.
Começava então mais um Sábado, o dia das compras e o dia das limpezas. De repente ouvi alguém a bater à porta com muita suavidade, senti  um sorriso leve a aparecer na minha cara e disse:
- Quem é a princesa que está a bater à minha porta??

- Chou eu – respondeu uma voz mimosa do outro lado.

Levantei – me rapidamente para abrir a porta à Joana. Mal a porta se abriu, aquele 
pequeno anjo riu – se para mim e saltou – me para cima:

- Dumiste bem Alex ?

- Eu dormi muito bem, e tu princesa? – respondi eu enquanto acariciava os seus caracóis, e a levava para a minha cama.

- Dumi chim – disse ela.

Não resisti em soltar uma ligeira gargalhada, e dar – lhe um grande abraço. Levantei – me da cama deixando a minha irmã a brincar com a minha almofada. Abri os estores e a janela para entrar um pouco de ar:

- Mana, vais – te vestir ?

- Vou, e tu devias fazer o mesmo antes que o pai acorde… - disse eu, sentindo um certo medo por ela.

O meu padrasto, era uma pessoa tudo menos normal. Chegava a casa quase sempre bêbado, quase sempre mal – disposto e a minha mãe, eu e a minha irmã, por qualquer coisa, como não estarmos vestidas às 9 da manhã, era motivo para levar um sermão ou para o ouvir insultar – nos.

A minha irmã rapidamente saiu da cama, e foi a correr para a mãe pedir que a vestisse. Peguei, numas simples calças de ganga, uma camisola branca e no meu casaco azul petróleo e vesti – me rapidamente.  Sentei – me em frente ao espelho e penteei o meu cabelo, nunca tirando os olhos das diversas fotografias que tinha lá coladas. Fotografias que me recordavam dos tempos em que havia sido feliz, e dos tempos em que me sentia verdadeiramente amada:

- Isso demora muito? – Ouvi o meu padrasto,  a gritar.

Levantei – me rapidamente do banco, espreitei para a cozinha e perguntei:

- Isso é para mim?

- Sim, não vês que já estamos todos aqui ? Ás vezes parece que não pensas pá!!
Fechei a porta rapidamente para acabar de me arranjar, tirei  minha mala preta e pus lá o essencial para o dia. Dirigi – me à cozinha:

 - Bom dia princesa – cumprimentou – me a minha mãe, claramente cançada.

- Bom dia mami – disse – lhe eu esboçando um sorriso.

Sentei – me à mesa para tomar o pequeno almoço. Conforme ia tirar pão, senti o meu padrasto a deter – me:
- Estes dois pedaços são para mim, por isso é que estão deste lado da mesa!

-  Mas não há mais pão em casa Luís…  - respondi eu, esperando a típica resposta.

- AZAR – berrou ele, agarrando nas duas fatias barrando – as com doce.

- Luís, querido,  não podes dar uma fatia à Alex ? – disse a minha mãe, com uma voz tremida.

- Já deviam saber que Não , é NÃO! – disse batendo com o punho na mesa, entornando todo o seu café na mesa – Alex limpa isto Já!

Olhei para ele bastante perplexa e disse:
- Porque é que não pegas tu num guardanapo e limpas isto? Afinal foste tu que sujaste…

Olhou – me enfurecido. Vi – o a ficar bastante vermelho, e mesmo assim continuei:

- És mais que alguém nesta casa, que não pode simplesmente pegar num pano e limpar uma nodoa de café?

Via a minha mãe a fazer sinais para me calar, mas não cedi, não ia ficar calada, não ia engolir mais.

- LIMPA JÁ ISTO OU…

- Ou o quê? – disse eu interrompendo – Vais bater – me?

Dito isto, senti uma mão a cortar o ar e a acertar na minha cara. Passei a mão pelo sitio onde me doía e soltei apenas uma lágima.

- Papáá !! – gritou a minha irmã.

- Cala – te agora tu Joana – disse ele empurrando a minha irmã para o meu do chão. – Alex, vais limpar agora ou queres outra?

- Luís estás a ir longe de mais … - ripostou a minha mãe
- E quem és tu para me dizer isso ?  - disse o meu padrasto.

A minha mãe voltou costas e simplesmente voltou a limpar a loiça. Não suportava ver aquilo, não suportava mais aquele homem, aquela casa que me prendia à escravidão. Peguei na minha mala preta, na mão da minha irmã e saí disparada de casa. Tinha de ir desanuviar, limpar as ideias, tinha de tirar este episódio da cabeça:

- Ainda te dói muito o dói – dói ?

- Não querida, já passou – disse eu sorrindo para ela.